Pelo fim dos campeonatos estaduais

De como as divisões no futebol brasileiro apenas refletem as profundas desigualdades regionais e sociais e a injusta infraestrutura econômica do país
Por Lincoln Pinheiro Costa
 
Futebol profissional é atividade econômica, embora haja quem, por esperteza, má-fé ou inocência negue essa realidade.
 
Sendo atividade econômica, há que se observar as leis: recolher os tributos, cumprir as obrigações trabalhistas, respeitar o direito dos torcedores – que se equivalem juridicamente aos consumidores – e dar lucro.
 
Não deve, pois, depender de subsídios do Estado, malgrado, como fomentador do bem-estar social, cumpra ao Estado estimular a atividade econômica, promovendo o desenvolvimento e combatendo as desigualdades sociais e regionais.
 
É sabido que o Brasil é um país com profundas desigualdades regionais e sociais.
 
O Estado de São Paulo concentra aproximadamente um terço da economia nacional. O Estado do Rio de Janeiro, por continuar sendo sede de importantes empresas estatais e privatizadas, mantém alguns privilégios econômicos em detrimento dos demais estados da federação.
 
A verdade é que o dinheiro flui para esses dois estados.
 
No futebol profissional não é diferente.
 
Enquanto os direitos de transmissão do campeonato paulista giram em torno de 65 milhões de reais por ano e o carioca 40 milhões, pelo mineiro se paga a bagatela de 16 milhões e pelo baiano míseros 500 mil reais/ano.
 
Não é preciso grande esforço de raciocínio para se concluir que essa diferença gerada, ano após ano, aumenta cada vez mais o abismo entre o futebol do eixo Rio-SP e o futebol dos demais estados.
 
Portanto, caro torcedor, quando você ouvir alguém defendendo a continuidade dos campeonatos estaduais em nome da tradição e da rivalidade, pergunte a que Senhor o arauto está servindo.
 
Manter os campeonatos estaduais só interessa à economia do eixo Rio-SP.  A manutenção desse ciclo vicioso levará à falência do futebol profissional dos demais estados e ao aprofundamento da tendência de se transferir recursos dos estados mais pobres para os mais ricos.
 
Cada vez que um torcedor do Norte, do Nordeste ou do Centro-oeste compra uma camisa de um time do eixo Rio-SP, está transferindo renda dos estados mais pobres para os mais ricos.
 
Romper com esse círculo vicioso é imperativo para se promover o desenvolvimento do futebol profissional e, por conseguinte, da economia de todos os estados.
 
A solução passa pelo fim dos deficitários campeonatos estaduais e sua substituição por um campeonato brasileiro com duração de pelo menos dez meses, no qual haja uma mais justa e equitativa distribuição dos recursos, de forma a se fortalecer os clubes de todo o Brasil.
 
Quando isso acontecer, todos os brasileiros terão orgulho de torcer pelos times de sua própria terra e não para os times de estados onde esses brasileiros são discriminados socialmente.